terça-feira, maio 20, 2008

Em pantanas

A casa ainda não está pronta para a tua chegada. Esta é a triste verdade que estes pais desnaturados têm para contar. Apesar de há mais de duas semanas andarmos em constantes (des)arrumações, depois de durante dois meses termos feito de hospedaria, ainda não nos orientámos e a casa está de pantanas.
Só ontem montámos a tua cama no nosso quarto. A roupa para a alcofa ainda está por lavar, e isto para não falar na pilha de roupa minúscula que teima em crescer perante a teimosia desta mãe que quer ser a única pessoa a passá-la a ferro. A banheira ainda está na casa dos tios Verónica e Jorge à espera que passemos por lá a buscá-la. As malas estão feitas, mas só porque na passada 6.ªf tivemos a primeira consulta na maternidade e mais vale prevenir que remediar. A tua ainda tem de ser revista, porque só ontem comprámos bodies de manga comprida, porque lhe falta a tua primeira roupinha, que tens a triplicar, oferta das duas avós e da tia, e a roupa com que vais sair à rua. Uma mariquice da mãe.
E ontem, depois de montada a cama, demos por nós a remexer em caixas e caixotes e fomos dar com o meu álbum de bebé. O pai ainda nunca o tinha visto e fartou-se de rir. Palpita-me que eu farei o mesmo quando vir o dele e tu quando vires os de nós os dois. O teu, tenho a certeza que vai ser lindo. E isto para dizer o quê? Para dizer que apesar de a casa não estar pronta para a tua chegada, nós estamos.

segunda-feira, maio 12, 2008

Parto natural vs cesariana

Quando somos crianças e imaginamos o que queremos ser quando formos grandes, ao contrário da maior parte das minhas amigas, que pensavam ser médicas, advogadas, veterinárias e afins, sempre me imaginei a ser… mãe! Desde essa altura sempre me imaginei em casa com um rebanho de filhos. Se tinha alguma outra profissão não me lembro, mas sei que sempre me imaginei rodeada de crianças. Seis. Foi esse o número que acordámos ainda em namorados. Dificilmente lá chegaremos, mas o que importa é que a primeira já está quase, quase a chegar. Mas, voltando novamente atrás no tempo, nunca pensei muito em como seria a hora do parto. Agora penso, mas também já pensei mais, e já estou como um pediatra de uma amiga que lhe diz «tudo o que entra tem de sair». À medida que a gravidez foi evoluindo, dei por mim inúmeras vezes a pensar se ela já estaria de cabeça para baixo e a pensar no momento do parto que, indubitavelmente, seria natural. Para mim, que é tudo novidade e falo sem experiência, o parto, desde que esteja tudo bem com a mãe e com o bebé, deve ser natural. É essa a minha posição.

No dia em que eu nasci, a minha mãe chamou a ambulância ao longo da madrugada. Eles apareceram de manhã e com um miúdo que tinha partido uma perna. Conclusão: os bombeiros acabaram por ter de encostar numa berma, curiosamente em frente à casa onde vivo agora, para eu nascer, com aquela criança e respectiva mãe a assistir a tudo. Escusado será dizer que a minha mãe nem chegou a ir ao hospital e foi logo levada para casa.

Não sendo de extremos, este não é de todo o cenário em que gostava que a Carolina nascesse, mas faz-me alguma confusão a facilidade com que hoje se escolhe entre o parto natural e a cesariana, supostamente porque é mais fácil ou se sofre menos. Ser mãe não é isso mesmo? Não digo, obviamente, a parte do sofrimento que está inerente ao parto, mas o sermos abençoadas por poder gerar um ser dentro de nós. Assim que engravidei espantou-me o discurso, não que fosse novidade, mas quando nos bate à porta é como se fosse o confirmar de tudo o que até aqui só se suspeitava, do «aproveita agora», «vais ver que depois não tens tempo para nada», «depois é que vais ver como elas são». Quando duas pessoas escolhem ser pais, em princípio, à partida já sabem que as suas vidas vão mudar radicalmente, mas será assim tão difícil numa primeira troca de palavras com alguém que vai viver essa experiência pela primeira vez dizer tão simplesmente «parabéns. Vais ver a maravilha que é ser mãe»? Que a vida não é fácil já todos o sabemos, mas também o que seria de nós, da nossa ambição, do nosso dia-a-dia, se não tivéssemos contratempos e momentos menos bons? Uma monotonia parece-me. Portanto, tudo isto para dizer que me parece uma verdadeira mariquice das mães que pedem para fazer cesariana.

Se calhar daqui a umas duas ou três semanas, altura em que a Carolina deve saltar cá para fora, vou-me arrepender de dizer isto, mas é o que penso e só mesmo em caso de risco de vida para mim ou para ela é que ponderaria essa hipótese. Também o que seria do verde se todos gostassem do amarelo?